No turbilhão dos cuidados de saúde, há um grupo que muitas vezes se esquece de cuidar de si: os próprios profissionais da saúde. É aí que entram a Ginástica Laboral e a Ergonomia, dois aliados essenciais para a prevenção de lesões e promoção do bem-estar. Neste artigo, exploramos a importância destas práticas, com base num estudo realizado num centro hospitalar do norte de Portugal: “Reabilitar Quem Cuida: Um Projeto de Ginástica Laboral para Profissionais de Saúde” da Revista Portuguesa de Enfermagem de Reabilitação (RPER).
1. As Lesões Musculoesqueléticas e o Desgaste Invisível
Trabalhar em saúde não é só mentalmente exigente, é também fisicamente brutal. Movimentar doentes, trabalhar por turnos, adotar más posturas por longos períodos. Tudo isto contribui para as chamadas Lesões Musculoesqueléticas Relacionadas com o Trabalho (LMERT). Estas afetam sobretudo as costas, cervical, ombros e membros superiores, sendo uma das principais causas de absentismo e incapacidade laboral.
O estudo mostra que:
- Mais de 70% dos profissionais de saúde relataram dor musculoesquelética.
- A dor lombar é a campeã entre os enfermeiros e assistentes operacionais.
- Médicos e assistentes técnicos sofrem mais de dor cervical, resultado de longas horas ao computador.
2. Ginástica Laboral: Pequenos Movimentos, Grandes Mudanças
A Ginástica Laboral surge como resposta direta e prática a esse cenário. No estudo, os profissionais passaram a realizar sessões de 10 minutos antes e depois dos turnos com música, balões e até cartazes motivacionais. Parece simples, mas o impacto foi notório:
Principais benefícios relatados:
- Mais disposição e motivação para o trabalho (76%)
- Maior bem-estar no local de trabalho (80%)
- Fortalecimento do espírito de equipa
E mais: houve redução do uso de medicação, da fisioterapia e até do absentismo laboral.
3. Ergonomia e Conscientização: Mais do que Postura, é Cultura
A ergonomia não é apenas sobre cadeiras ajustáveis e mesas com altura certa. É uma forma de pensar o trabalho de forma sustentável. Neste projecto, a formação ergonómica foi adaptada a cada grupo profissional, os profissionais aprenderam a reconhecer riscos e a agir preventivamente.
Depois de 1 ano:
- Aumentou a percepção da importância de equipamentos ergonómicos.
- 93% dos participantes disseram querer continuar com as sessões de Ginástica Laboral.
4. Autocuidado como Ato de Resistência
Mais do que aliviar dores, a Ginástica Laboral promove uma mudança de mentalidade. Quando inserida de forma consistente no quotidiano profissional, ela reforça a ideia de que o corpo é uma ferramenta de trabalho que merece atenção diária. Num ambiente como o hospitalar, onde o ritmo é frenético e as pausas são raras, reservar alguns minutos para cuidar de si próprio deixa de ser um privilégio e torna-se um ato de resistência, autocuidado e respeito pelo colectivo.
Conclusão
Ginástica Laboral e Ergonomia não são luxos, são necessidades. São ferramentas que transformam o ambiente de trabalho, promovem saúde e valorizam quem cuida. Porque quem cuida, também merece cuidado.